quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Felicidade


Diante de inúmeros impactos que minha visão presenciou, existe a que mais insiste em não ir embora. No término de mais uma curta, mas cansativa viagem, a imagem de minha grandeza refletida na figura mais simples que já pude notar: uma peça de roupa simples, a barba por fazer e visivelmente o cansaço, a exaustão, o abatimento refletiam a realidade agora a ser enfrentada.
Em uma mente virgem, sem experiência alguma, poupada de alguns conhecimentos e com uma falta e carências ali presentes, aquele impacto não surtiu tantos efeitos. Um abraço acolhedor e um grande sorriso que esperavam do outro lado daquela passagem barrenta levemente iluminada pelas lanternas do veículo eram tudo que interessava ali. Já com todas as descrições do local obtidas por telefone ou cartas, o lugarejo não provocou surpresas. O local escuro, com poucas pessoas e uma sonoplastia muda, mas ecoada naquele vazio só comprovou uma ideia já formada. O Comum, só um povoado de Tutoia-Ma, não possuía muitos moradores e os que aqui estavam moravam sempre a uma distância considerada dos vizinhos.
 A sincera intenção era apenas uma companhia que há uns meses já não era possível diariamente. O sacrifício, a sobrevivência como guia. Por isso a expectativa. O choque. Era difícil encarar a realidade com 12 anos. Muita coisa desconhecida só clareou e pude entender apenas bem mais velho.
O odor da nova “casa” encantava. Cercado por um varejo ainda modesto e escutando a gravidade de sua voz adormeci aos poucos, nem os meus assombros freqüentes, naturais de algumas crianças, foram suficientes para tirar-me o sono e a satisfação de compartilhar aquela nova vida.
Satisfação, prazer, tranqüilidade. Momento da infância inesquecível, o mais amoroso, o mais acolhedor. A preocupação, a serenidade na fala, a cumplicidade dos dois. Felicidade. Minha felicidade.
Não quero que vá embora jamais. Lembrarei até o último minuto. Hoje eu vivo aqui e o cheiro ainda é o mesmo.

6 comentários:

  1. Embora toda a resistência em viver naquele lugar cheio da melancolia que não encontramos nas grandes cidades, naquele lugar onde faltavam as luzes, os atrativos dos grandes centros. Cá estamos hj. No Comum. Hj também entendo certas coisas. Papai sempre enxerga longe.

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  2. Eita, eita! Não canso de lhe falar que a cada texto que leio aqui, me surpreendo ... Parabéns, asuhauhauhsuhas!

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  3. E eu que dizia não querer vir para Tutóia de jeito nenhum, e muito menos para o Comum,hoje não quero sair daqui não troco nem pelo centro de Tutoia.E o melhor estamos todos nós separados por paredes, apenas , paredes.Isso é FELICIDADE!!!!
    Nem se garante!!! Esse texto vou te contar!!!

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  4. Nossa... parece engraçado hhehe, mas tuas palavras tem muito de tua trajetória.De verdade, o Comum contribuiu mesmo para que não caísse na vala comum da vida. Lembro de algumas cenas passadas e hoje não consigo, nem de longe, fazer um paralelo entre aquele e o Jota de hoje. È pra está feliz mesmo, PARABÉNS!!!!

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  5. O Comum representa muito mais. Além desse texto...
    Obrigado pelos comentários.
    Voltem sempre!

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